Saulo era um motoboy que trabalhava no bairro Armour, era um forte rapaz, saudável, de uns 120kg, porém feliz. Querido por todos, possuía uma boa clientela e vivia consideravelmente bem.
Certa vez passou vários dias com enjoo e fortes dores no abdome, motivo pelo qual procurou dona Magalí, uma velha senhora considerada curandeira, que fazia pajelanças, benzeduras, tirava encostos das pessoas físicas e jurídicas, entre outras coisas.
Chegando na casa de D. Magalí, a mesma encontrava-se deitada no chão com uma garrafa de cachaça na boca, semelhante a um terneiro no úbere da mãe. Saulo pede licença e a velha senhora, um pouco tonta, manda o robusto jovem se sentar pelas cadeiras mal posicionadas da sala.
Sem delongas ele começa a expor seu problema, suas dores e enjoos. A velha, olhando estrabicamente para o gordo, pede para que ele respire fundo e levante os braços, depois agarra o ventre do rapaz e dá uns 3 tapas na altura do umbigo, analisa o corpo dele, olha para a cara de Saulo e manda ele se deitar no sofá. Desconfiado de tudo aquilo, ele se deita e espera a curandeira que estava arrancando galhos de certa arvore no lado de fora da casa.
D. Magali levanta a camiseta do gordo e esfrega o galho no umbigo dele, bate algumas vezes de maneira forte, pronuncia alguma palavras e atira o mesmo galho numa bacia com água. Após alguns minutos, entre um gole de canha e outro, ela corre em direção à bacia e a chuta, molhando todo o chão da casa.
__ Relaxado! __ Grita Magali para o gordo, com a voz mole e cuspindo litros de saliva. __ Este teu problema não há benzedura que dê jeito. Tu tá prenhe! __ Finaliza a velha, com um sorriso sarcástico, dando um tapa na lustrosa barriga do motoboy.
__ Mas como?! Como posso estar prenhe? Onde se viu um homem estar grávido?
__Olha, gordinho; __ Diz a velha como se conversasse com o umbigo do gordo __ Tu tá esperando alguma coisa, o teste do galho não tem erro, muitas moças vem aqui e sempre dá certo. Creio que você andou sentando onde não devia.
Cabisbaixo, o rapaz sai da casa, pega sua moto e se refugia numa chácara perto do cerro, onde senta-se no chão ao lado de sua inseparável motocicleta. Ali começa a refletir, onde teria ele sentado, como poderia estar grávido, logo ele que nunca fora pederasta, sequer tivera alguma putice durante toda sua vida. Acabrunhado, ele ficou algumas horas comendo uns biscoitos que guardava nos bolsos do seu colete até que um pensamento passou na sua cabeça:
__ Posso estar esperando um filho de qualquer cliente meu, muitos sentam na minha moto e eu sento depois, vai ver é o banco da moto o lugar onde eu nunca deveria ter sentado. Afinal, Quem poderia ser o pai desse gurizinho?
O gordo começa a calcular há quantos dias tinha dores e enjoos, e seu calculo bate num domingo, juntamente o dia em que teve uma corrida só, para levar seu vizinho na quadra do Francês - campo de futebol local.
Numa confusão de ideias, sem nenhuma reação, o rapaz se deita em posição fetal e chora, pensando no que aconteceu, nesse inusitado infortuno que tinha se sucedido.
Na manhã seguinte, ele acorda novamente com dores na barriga e um inchaço aparente. A dureza da barriga e o enjoo davam para ele cada vez mais certeza de que ali estava Saulinho crescendo. Ele mesmo durante a noite pensara num nome para o filho, seria Saulinho. Também que não esconderia a noticia do, digamos “pai” do menino. Ele acordou decidido a procurar seu vizinho, de nome Carlos, para o colocar a par de tudo.
A moto em disparada berrava com seu motor, em cima dela o gordo com suas lágrimas enxugadas já esboçava um sorriso, entendera que talvez não fosse tão ruim ter um filho, de forma que, após fazer umas compras no centro, volta para o bairro em alguns minutos, diretamente na casa de Carlos e entra no pátio, onde é recebido pelo amigo:
__ Fala Saulinho, que conta pra nós?
Saulo respira fundo e diz: __ Lembra aquele domingo que te levei pro Francês pra joga bola? Pois é, engravidei de ti nesse dia. Pode parecer um pouco estranho, __ Ele começa a acariciar a barriga __ mas fui na benzedeira e ela disse que é de certeza que aqui tem um filho.
Carlos dá um passo para trás e coloca as mãos na cabeça de forma desesperada, numa mistura de indignação e nojo ele pergunta para o amigo: __ Você está louco! O que tu bebeste? Que brincadeira é essa?
Saulo segue a conversa e afirma novamente o que haviam lhe dito e o que ele já estava sentindo. Carlos, muito compreensivo, começa a explicar que fora uma barbaridade o que esta senhora disse, uma falácia sem tamanho. Explicou para o motoboy que homens não podem conceber filhos, muitos menos engravidar por sentar no mesmo local que outra pessoa, resaltou inclusive, que curandeiros não são médicos, são charlatões, e que aquela Magalí não passava de uma bêbada senhora que merecia tratamento médico.
__ Saulo, sem resposta ao que havia ouvido agora, fica indeciso sobre tudo. Aprendera que não poderia esperar um filho na sua barriga, porém ainda tinha aquele volume guardado, que causava muito desconforto. Diante desse impasse resolve seguir o conselho de seu amigo, procurar um médico para acabar com a dúvida.
Ao chegar no consultório, ele espera 4 horas até ser atendido pelo doutor. Senta-se na mesa da sala de exame e fala para o médico todo seu drama.
Foram necessários 10 minutos para que o médico recuperasse o fôlego por causa das gargalhadas que o derrubaram, tamanha a graça gerada pela história do rapaz.
O médico manda o gordo, notadamente constrangido, se deitar na mesa para poder ouvir o interior do seu corpo utilizando seu estetoscópio.
Pergunto para ele o seguinte:
__Há quantos dias tem esse enjoo?
__ 8 dias, doutor.
__A barriga sempre esteve inchada?
__ Sim, cada dia mais.
__ Tu anda cagando seguido?
O silencio reinou. Passou alguns segundo e ele responde: __ Não sei, acho que faz alguns dias.
O médico ordena com veemência para que vire-se de bruços na mesa. O gordo assim o faz.
De maneira a causar inveja em muito jóquei, o médico monta no lombo do gordo e começa a pressioná-lo contra a mesa, logo após chamando sua secretária para que o ajudasse a fazer mais força, até que, de maneira extraordinária, o gordo peida de maneira épica, similar à uma máquina de vapor que expele uma rajada quente de gases presos. Era uma lufada infernal que além de infestar a casa por completo, deixou uma marca na parede, como se ali tivesse sido pichado pelos melhores grafites existentes no Brasil.
Respirando aliviado, Saulo deu-se conta da vergonha que passou diante de todos. Muito agradecido ao médico, ele paga a consulta e vai embora na sua moto em direção à uma sanga que corria na zona, ali ele senta, olha para o horizonte, respira fundo, levanta o banco da moto e retira um buquê de flores com dedicatória para Carlos, lançando tal ramalhete na água. Ele se atira no chão e olha as rosas se afogarem iluminadas pelo pôr-do-sol do Armour, naquela bela tarde de outono.
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