quinta-feira, 28 de julho de 2011

A indomável

Era uma terça feira nebulosa em Santana, por volta das 2:30, quatro jovens se encontravam num automóvel bebericando e vagando pela rua dos Andradas. Sob o mau tempo e as péssimas circunstâncias que se encontrava o movimento da cidade, os 4 decidiram voltar para o Armour, ao passarem pela 5ª quadra da via citada anteriormente, um deles avistou duas jovens ninfas prostradas sobre a calçada de uma das ruas adjacentes à dos Andradas, no tempo que se leva para dar meia piscada, o rapaz ordenou que o chofer parasse o carro, que o fez com violência, engatou a marcha ré e dispôs o automóvel de forma que os jovens pudessem sondar as garotas, não eram grande coisa, contudo, a hora, o dia e o clima não poderiam propiciar nada melhor. Sendo assim, dois deles desceram do carro e começaram a dialogar com as ninfas, um diálogo tenso, repleto de assuntos triviais que morriam num suspiro de algum dos rapazes, um deles teve a brilhante idéia de ser incisivo, e as convidar para “dar uma volta” -leia-se: praticar o coito-, feito isso, uma delas rechaçou o convite, no entanto, e para deleite dos jovens mancebos, a outra aceitou.
Feitos alguns acertos, ficou dito que a outra jovem iria esperar sua amiga no ponto de seus amigos motoboys, que também gostavam muito de “dar voltas” com elas, assim, os jovens, agora na companhia da garota saíram sem destino pelas ruas da cidade, sem mais delongas, veio o convite o qual os jovens realmente pretendiam fazer: uma ida ao Armour, para a casa de um deles, pergunta que soou como um aviso, uma vez que enquanto a indagavam o motorista já estava a caminho do bairro.
Passados alguns minutos, os rapazes e a depravada estavam na casa supracitada, num quarto escuro e pequeno que os cinco mal cabiam, encontrões eram iminentes.
Numa velocidade quase inacreditável a jovem estava nua, e praticando o coito bucal com um, enquanto segurava a trejeba de outro, não demorou muito para que um deles invadisse a buçaranha da ninfa. Algum tempo depois, os jovens apresentavam certo cansaço e enquanto um deles enfiava a piroca com violência na buçola da garota, outro decidiu recolher-se e o chofer foi levá-lo em casa, assim, restaram 2 jovens, o primeiro foi banhar-se, enquanto o segundo, (o único que não tinha metido a piroca na garota) ficou a sós com ela no quarto.
Na sequencia, os dois deixam o âmbito, o jovem que havia se banhado e esperava lendo um jornal no corredor espantou-se com o curto tempo que o rapaz levou para desempenhar a atividade, no entanto, foi surpreendido ao saber que não houve coito nenhum no quarto -não por parte do remanescente-, houve sim uma agressão por parte do rapaz, que ao tentar praticar o coito com a libertina, e ser rechaçado por várias vezes, agrediu-a com um soco no queixo. A jovem, com os olhos marejados, implorava para ser levada enquanto o agressor a ameaçava e proferia infâmias sobre ela.
Já passavam das 6am, e, para o alívio de todos, chegou o chofer. Ao perceber o ar de tensão que se dispunha na casa, tratou de levar a garota para longe dali.
Assim, para evitar ser acusado de sequestro, o motorista deixou a jovem exatamente no local onde foi encontrada e rumou para o Armour, a garota agora vai em busca de outro rapaz (ou outros), algum que possa saciar seu apetite sexual voraz sem oferecer risco à sua integridade física.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Embaraçado

Saulo era um motoboy que trabalhava no bairro Armour, era um forte rapaz, saudável, de uns 120kg, porém feliz. Querido por todos, possuía uma boa clientela e vivia consideravelmente bem.
Certa vez passou vários dias com enjoo e fortes dores no abdome, motivo pelo qual procurou dona Magalí, uma velha senhora considerada curandeira, que fazia pajelanças, benzeduras, tirava encostos das pessoas físicas e jurídicas, entre outras coisas.
Chegando na casa de D. Magalí, a mesma encontrava-se deitada no chão com uma garrafa de cachaça na boca, semelhante a um terneiro no úbere da mãe. Saulo pede licença e a velha senhora, um pouco tonta, manda o robusto jovem se sentar pelas cadeiras mal posicionadas da sala.
Sem delongas ele começa a expor seu problema, suas dores e enjoos. A velha, olhando estrabicamente para o gordo, pede para que ele respire fundo e levante os braços, depois agarra o ventre do rapaz e dá uns 3 tapas na altura do umbigo, analisa o corpo dele, olha para a cara de Saulo e manda ele se deitar no sofá. Desconfiado de tudo aquilo, ele se deita e espera a curandeira que estava arrancando galhos de certa arvore no lado de fora da casa.
D. Magali levanta a camiseta do gordo e esfrega o galho no umbigo dele, bate algumas vezes de maneira forte, pronuncia alguma palavras e atira o mesmo galho numa bacia com água. Após alguns minutos, entre um gole de canha e outro, ela corre em direção à bacia e a chuta, molhando todo o chão da casa.
__ Relaxado! __ Grita Magali para o gordo, com a voz mole e cuspindo litros de saliva. __ Este teu problema não há benzedura que dê jeito. Tu tá prenhe! __ Finaliza a velha, com um sorriso sarcástico, dando um tapa na lustrosa barriga do motoboy.
__ Mas como?! Como posso estar prenhe? Onde se viu um homem estar grávido?
__Olha, gordinho; __ Diz a velha como se conversasse com o umbigo do gordo __ Tu tá esperando alguma coisa, o teste do galho não tem erro, muitas moças vem aqui e sempre dá certo. Creio que você andou sentando onde não devia.
Cabisbaixo, o rapaz sai da casa, pega sua moto e se refugia numa chácara perto do cerro, onde senta-se no chão ao lado de sua inseparável motocicleta. Ali começa a refletir, onde teria ele sentado, como poderia estar grávido, logo ele que nunca fora pederasta, sequer tivera alguma putice durante toda sua vida. Acabrunhado, ele ficou algumas horas comendo uns biscoitos que guardava nos bolsos do seu colete até que um pensamento passou na sua cabeça:
__ Posso estar esperando um filho de qualquer cliente meu, muitos sentam na minha moto e eu sento depois, vai ver é o banco da moto o lugar onde eu nunca deveria ter sentado. Afinal, Quem poderia ser o pai desse gurizinho?
O gordo começa a calcular há quantos dias tinha dores e enjoos, e seu calculo bate num domingo, juntamente o dia em que teve uma corrida só, para levar seu vizinho na quadra do Francês - campo de futebol local.
Numa confusão de ideias, sem nenhuma reação, o rapaz se deita em posição fetal e chora, pensando no que aconteceu, nesse inusitado infortuno que tinha se sucedido.
Na manhã seguinte, ele acorda novamente com dores na barriga e um inchaço aparente. A dureza da barriga e o enjoo davam para ele cada vez mais certeza de que ali estava Saulinho crescendo. Ele mesmo durante a noite pensara num nome para o filho, seria Saulinho. Também que não esconderia a noticia do, digamos “pai” do menino. Ele acordou decidido a procurar seu vizinho, de nome Carlos, para o colocar a par de tudo.
A moto em disparada berrava com seu motor, em cima dela o gordo com suas lágrimas enxugadas já esboçava um sorriso, entendera que talvez não fosse tão ruim ter um filho, de forma que, após fazer umas compras no centro, volta para o bairro em alguns minutos, diretamente na casa de Carlos e entra no pátio, onde é recebido pelo amigo:
__ Fala Saulinho, que conta pra nós?
Saulo respira fundo e diz: __ Lembra aquele domingo que te levei pro Francês pra joga bola? Pois é, engravidei de ti nesse dia. Pode parecer um pouco estranho, __ Ele começa a acariciar a barriga __ mas fui na benzedeira e ela disse que é de certeza que aqui tem um filho.
Carlos dá um passo para trás e coloca as mãos na cabeça de forma desesperada, numa mistura de indignação e nojo ele pergunta para o amigo: __ Você está louco! O que tu bebeste? Que brincadeira é essa?
Saulo segue a conversa e afirma novamente o que haviam lhe dito e o que ele já estava sentindo. Carlos, muito compreensivo, começa a explicar que fora uma barbaridade o que esta senhora disse, uma falácia sem tamanho. Explicou para o motoboy que homens não podem conceber filhos, muitos menos engravidar por sentar no mesmo local que outra pessoa, resaltou inclusive, que curandeiros não são médicos, são charlatões, e que aquela Magalí não passava de uma bêbada senhora que merecia tratamento médico.
__ Saulo, sem resposta ao que havia ouvido agora, fica indeciso sobre tudo. Aprendera que não poderia esperar um filho na sua barriga, porém ainda tinha aquele volume guardado, que causava muito desconforto. Diante desse impasse resolve seguir o conselho de seu amigo, procurar um médico para acabar com a dúvida.
Ao chegar no consultório, ele espera 4 horas até ser atendido pelo doutor. Senta-se na mesa da sala de exame e fala para o médico todo seu drama.
Foram necessários 10 minutos para que o médico recuperasse o fôlego por causa das gargalhadas que o derrubaram, tamanha a graça gerada pela história do rapaz.
O médico manda o gordo, notadamente constrangido, se deitar na mesa para poder ouvir o interior do seu corpo utilizando seu estetoscópio.
Pergunto para ele o seguinte:
__Há quantos dias tem esse enjoo?
__ 8 dias, doutor.
__A barriga sempre esteve inchada?
__ Sim, cada dia mais.
__ Tu anda cagando seguido?
O silencio reinou. Passou alguns segundo e ele responde: __ Não sei, acho que faz alguns dias.
O médico ordena com veemência para que vire-se de bruços na mesa. O gordo assim o faz.
De maneira a causar inveja em muito jóquei, o médico monta no lombo do gordo e começa a pressioná-lo contra a mesa, logo após chamando sua secretária para que o ajudasse a fazer mais força, até que, de maneira extraordinária, o gordo peida de maneira épica, similar à uma máquina de vapor que expele uma rajada quente de gases presos. Era uma lufada infernal que além de infestar a casa por completo, deixou uma marca na parede, como se ali tivesse sido pichado pelos melhores grafites existentes no Brasil.
Respirando aliviado, Saulo deu-se conta da vergonha que passou diante de todos. Muito agradecido ao médico, ele paga a consulta e vai embora na sua moto em direção à uma sanga que corria na zona, ali ele senta, olha para o horizonte, respira fundo, levanta o banco da moto e retira um buquê de flores com dedicatória para Carlos, lançando tal ramalhete na água. Ele se atira no chão e olha as rosas se afogarem iluminadas pelo pôr-do-sol do Armour, naquela bela tarde de outono.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Ouvidinho

Em uma das ruas do armour existia um vigia noturno de pequena estatura, cabelos ralos e um rosto moreno queimado do sol, sua alcunha era ouvidinho, por ser uma pessoa por demais informada da vida alheia. Ele trabalhava há alguns meses naquela localidade acreditando ser o melhor emprego do mundo. Nunca houvera tido nenhuma alteração na calma e serena noite santanense.
Certa noite, enquanto urinava escorado nos ferros da parada de ônibus, ouviu um barulho diferente ao longe. Mirou com atenção para a rua da ladeira e viu, na janela da casa do Seu Pablo, uma pessoa com uma faca na cintura tentando abrir a janela. Acreditou que aquele sujeito indefinido fosse um habilidoso ladrão, pois a janela rapidamente foi aberta, como se ninguém houvesse trancado-a. Num desatinado pulo em direção à calçada, ele se põe a correr e gritar, seis ou sete silvos foram dados com seu poderoso apito de metal, fazendo o suspeito senhor bater em retirada em direção ao cerro, embrenhando-se nos canteiros mal carpidos do bairro, onde não pode mais ser avistado.
Notadamente com medo, o vigilante volta para sua cadeira em uma das esquinas e espera, apreensivo, o fim do expediente com o raiar do sol.
Na manhã seguinte, depois de ter ido para sua casa descansar um pouco, Ouvidinho teve fome e foi ao açougue do bairro, onde trabalhava seu amigo Zé, a fim de comprar guisado.
Batendo no balcão com certa força, ele pede 1 kg de guisado de segunda para Zé, que começa a ensacar a carne.
Ouvidinho olha para a face do amigo e nota alguns arranhões nas suas bochechas, logo o pergunta:
__ Tchê, Zé, o que é esses arranhados na tua cara?
O rapaz para rapidamente a pesagem do guisado, como se tivesse ficado confuso com tal afirmação e responde: __ Não é nada demais, esses barbeiros da zona não sabem fazer uma barba como antigamente. Ouvidinho continua:
__ Sabe que ontem à noite houve uma alteração na vizinhança, vi um sujeito armado de uma faca abrindo a janela da casa do Seu Pablo, o mesmo ao me avistar saiu correndo mato a dentro, conseguindo fugir.
Zé, quase que suando, responde ofegante:
__ Verdade? Que perigo! Esse bairro está decadente, é um perigo sair de noite.
O açougueiro joga o saco com carne para o amigo, que o paga e vai embora.
Chegando em casa com sua compra, Ouvidinho prepara o guisado e reflete no que havia acontecido. Ele ficou muito desconfiado de que Zé tivesse parte com o ocorrido naquela noite.
Iniciando a nova jornada de trabalho, Ouvidinho resolve fazer uma ronda diferente na direção do açougue, onde nos fundos morava seu amigo Zé.
Ele dá uma volta pela frente do estabelecimento e dobra para os fundos do mesmo, onde tinha uma luz acesa, provavelmente a do banheiro. Ele olha para a janela, que era bem alta e fica por ali alguns minutos, quando começa a ouvir um barulho, de certa forma indefinido, como se fosse uma voz. Com a máxima concentração tenta decifrar o que era aquele som e, passado alguns instantes, ele ouve a seguinte frase dita com ofegância: “Pablo, Pablo, tu vai ver Pablo.”
Assustado, ele sai correndo e derrubando algumas latas que tapavam a fossa séptica da casa. Ao perceber que seu tropeço fora ouvido, ele atravessa a rua, se esconde atrás de uma árvore e fica vigiando a casa.
A luz dos fundos se acende e na calçada surge Zé, sem camisa e com uma faca em mãos. Ele dá três voltas pela frente do estabelecimento empunhando a faca e volta para sua casa. Ouvidinho teve a certeza que era Zé o mesmo homem que estava tentando entrar na casa do Seu Pablo.
Nunca havia desconfiado que seu amigo era ladrão, sempre conviveu com Zé, haviam sido criados juntos pela sua avó, como se fossem irmãos, eram íntimos amigos. Ouvidinho jamais desconfiou que seu velho amigo fosse uma pessoa perigosa.
Assustado com tudo isso, Ouvidinho passou a fazer sua ronda todas as noites dando atenção especial para a casa do Seu Pablo. Durante vários dias nada aconteceu por lá, mas quando ele menos esperava, entre um cochilo e outro, reparou que a janela da casa do Seu Pablo estava aberta, com as cortinas voando para fora por causa do forte vento daquela noite.
Com muita cautela ele rasteja pela lateral da casa e se escora abaixo da janela, para concluir sua suspeita de que algo ruim havia acontecido.
Ouvidinho agarra seu cassetete com as duas mãos e fica esperando o momento certo de olhar pela janela e fazer algo. Ele ouviu, então, a voz de Zé. Ficou paralisado, não acreditava que poderia acontecer algo de ruim ali. Ele levanta-se um pouco mais para ouvir o que estava acontecendo e Zé grita: “Agora tu não grita, nem vai doer”
Sem pensar em nada, Ouvidinho enfia o corpo pela janela e grita:
__ Parem! Não faça nada com ele!
Mas foi só gritar essas frases de ordem que um frio bateu da barriga aos pés do vigia. Estava no quarto o Neto do Seu Pablo, prostrado na cama ao lado do açougueiro que estava com a linguiça em riste.
__ Que barbaridade! Como tu podes te acostar na cama com esse rapaz, o que pensa que está fazendo! Achei que não fosses assim! __ Exclama de forma exasperada o vigia ouvidinho.
__ Desculpa, não tenho mais o que fazer, fui pego em flagrante. Peço a ti, meu velho amigo, para que me perdoe por tal atitude e me diga, de verdade, o que posso fazer para voltar a ter tua amizade. __ Lamentou Zé.
Ouvidinho larga o cacetete no chão, esfrega o rosto com a mão, pensa um pouco, olha para o amigo e diz: __ Pois bem, terá minha amizade de volta, mas que isso não se repita!
Zé suspira de alivio mas é interpelado pelo vigia:
__ E, se for repetir, que me chame e não faça cerimônia.

domingo, 3 de abril de 2011

O homem que chorava leite

Por mais um dia o esposo não encontrara emprego, tampouco o procurara, somente tomou alguns goles de canha barata nos botequins da Francisco Reverbel como se o álcool fosse solucionar os seus problemas cotidianos. Ao anoitecer o ébrio senhor entra na sua casa um pouco perdido e um pouco sujo e atira-se nos pelegos da sala de estar. Aos berros sua senhora o levanta em meio a bordoadas pela cabeça e pontapés nas nádegas.
__ Sem vergonha! Chegastes mais um dia bêbado e cagado em casa! Quem vai lavar estes teus cagados? Quem vai alimentar teus filhos que gemem de fome? __ Exclama a mulher com seu porrete em riste.
O bêbado sem resposta ou qualquer reação é colocado para fora da casa, rolando pela calçada e, ao parar junto ao poste, fica escorado semelhante a um saco de batatas.
Algumas horas depois, quando os primeiros raios de sol iluminaram o antigo bairro do frigorifico, o rapaz que outrora estava bêbado agora sente uma labareda que arde sem cessar nos miolos combinada com os galos das porretadas que sua senhora o havia desferido. Ele se escora no poste e esfrega a cara reclamando do odor a podre que saia da sua face, em meio aos olhos. O cheiro assemelhava-se a leite coalhado de no mínimo 5 dias.
Diante dessa situação de total humilhação, o rapaz senta no meio-fio e brada ao léu:
__ O que faço? Cagado dessa maneira, fedendo a leite azedo e com bafo de cachaça, de que forma alimentarei meus filhos e minha mulher? Nada me resta se não morrer. __ E pôs-se a chorar de maneira copiosa, como criança pequena, de maneira que nada o fazia esquecer daquele desejo de morte.
Pois então ocorre o curioso fato: O homem enquanto chorou se deu conta que das suas vistas vertia leite de textura única, como de um seio mamífero que alimenta a descendência. Diante desse fato o homem ficou estarrecido, estava a chorar leite de sabor diverso, superior aos melhores leites frescos que existiam na localidade.
O homem levanta-se e bate na janela da casa, onde um dos seus filhos desperta e abre a porta.
Entrando de maneira afobada agarra seu filho e chama os outros 3 para mostrar-lhes o fato ocorrido. Sentou-os numa banqueta rota de madeira e pegou um copo. Os filhos olhavam com certa desconfiança de ser mais um devaneio de bêbado que costumeiramente viam em seu lar. Então o pai diante das crianças olha para o copo, encarando-o com zelo e fechando os olhos. Fez-se silêncio durante alguns segundos, os filhos cada vez mais preocupados com a saúde fisica e mental do pai, então, entre alguns soluçares, um jato de leite fresco e cremoso verte das vistas do homem, de forma milagrosa, enchendo o copo até transbordar, para assombro dos pequenos famintos e beberam tudo e lamberam o chão molhado pelo branco e saboroso leite.
Ao ouvir todo o burburinho a mãe surge na sala se perguntando de onde saiu aquele leite, pois seu marido não trazia para casa nenhuma bebida sem álcool há anos. Ela segura seu esposo pelo pescoço e pergunta de onde saiu aquele alimento. Ele responde que dos seus olhos verte leite.
Sem nenhum tipo de resposta à tal afirmação, ela olha atenta aos olhos do marido e pergunta:
__ De que maneira pode sair leite dos teus olhos? Logo tu um bêbado vadio!
Ele responde:
__ Traga aquele copo! __ O filho o entrega o vasilhame e ele concentra-se fixamente. Menos de 1 minuto foi o suficiente para lavar o colo da mulher e encher o copo de leite fresco, espumoso.
Era realmente fascinante! A família que carecia de alimento encheu a barriga com o leite que vertia dos olhos do patriarca, e assim foi durante alguns dias.
Determinada manhã o vizinho da família entra na casa para pedir um pouco de açúcar, a mãe o recebeu e lhe serviu um pouco do leite que o marido chorara antes de ir para o boteco.
O vizinho chamado Paulo bebe o leite e espanta-se com o sabor daquela bebida e pergunta:
__ Venha cá, vizinha. De onde veio esse leite tão gostoso?
Ela olha para os lados e sem resposta confessa:
__ Meu marido há alguns dias descobriu que dos seus olhos vertia leite, desde então o ordenhamos diariamente de forma que nunca mais passamos fome.
Paulo ficara perplexo com tal afirmação, saindo da casa ao encontro da vizinhança para falar sobre o curioso caso.
Não demorou 1 dia para que uma fila se criasse na porta da casa do homem que chorava leite, todos queriam provar o tal leite celestial que saía dos olhos daquele ébrio rapaz.
Caridoso com a comunidade, ele se colocou à serviço chorando em vários copos, vasilhames e pratos que eram postos no mesa da cozinha.
Só que, com o passar do tempo, ele começou a se debilitar ao ponto de acabar o todo leite. Naquele momento encontravam-se não menos que 6 pessoas empunhando recipientes e clamando pelo tal leite. Não havendo maneira de satisfazer os vizinhos, ele explica que não conseguia mais, parecia que não tinha mais leite.
Uma revolta tomou o lugar, o descontentamento junto com a raiva dos azarados vizinhos causaram um tumulto, onde várias pessoas tentaram agredir o rapaz, que sai correndo pela rua.
Vários que estavam na casa e outros que estavam chegando para buscar o leite se puseram a correr atrás do rapaz, que na primeira curva atirou-se numa boca-de-lobo, ficando ali oculto por dois dias e duas noites.
Em meio a tanta solidão, o rapaz considerou o misterioso leite como algo ruim e resolveu dar um fim naquela situação de perseguição e raiva, saiu correndo pela rua em direção à planta frigorífica gritando que naquele momento acabavam-se seus problemas. Alguns metros foram percorridos enquanto ele com as próprias unhas arrancava seus globos oculares, deixando um rastro de leite e sangue pela rua, terminando sua corrida final na rua dos plátanos, onde cai desfalecido com a cara tomada em sangue.
Vendo aquele moribundo cair no seu quintal, a velha senhora moradora dessa casa o coloca para dentro da garagem e o esconde.
Perguntado sobre o que aconteceu e por que estava sem os olhos ele somente disse que terminou com seus problemas, seus olhos nunca mais iriam dar leite para ninguém.
Ouvindo tal absurdo, a senhora cuida das feridas e hospeda o rapaz por alguns dias.
Barbudo e sedento pela cachaça, ele sai sem rumo pelas ruas em direção ao cerro do armour, de onde nunca mais souberam-se notícias dele. Alguns moradores afirmam que ele ainda é visto pela noite vagando no mato, sem visão, sem cobiça e sem leite.