terça-feira, 29 de outubro de 2013
Neto quer aprender a namorar
Três meninos corriam atrás de uma bola na alameda dos plátanos, era uma animada partida de futebol com muita velocidade, haja vista a brincadeira se dar num lançante típico da localidade. Lá pelas tantas um dos meninos chuta com força aquela bola murcha e esfarrapada fazendo-a voar por sobre um muro, vindo a estufar uma peça de roupa pendurada no varal daquele quintal. Os meninos sabedores das condições do solo daquele dia – fazia poucas horas que havia chovido – sentiram no âmago a merda que tinham praticado: A bola pintou o pano pendurado no varal, com todo o contraste que se possa imaginar, feito uma trincha de tinta negra em um muro branco, ao estilo camisa do Vasco da Gama. Nisso um dos moleques exclama: __ Porra! Sujou o lençol da velha! “Vamo lá” tentar fazer algo antes que descubram a peraltice que fizemos.
Então os meninos pularam a mureta e tentavam, em vão, tirar aquele pano do varal, contudo era alto demais para eles. __Cara, não alcanço – Dizia o jovem se esticando ao máximo para puxar o prendedor ou a corda do varal. __Esse lençol tá imundo, gente, vão nos “bater o brim” se virem isso.
Então outro menino começa a puxar dito pano: __Caraio, que lençol esquisito, ele parece q tem dois lados e é furado, e a mancha da bola não parece ser a única mancha...
Mal terminou o menino de tecer seu comentário e uma cadeira de madeira, cor cerejeira, com entralhes manuais, belo verniz e adornos com ares de baronado voa pela janela acertando a cabeça do jovem, deixando-o desacordado:
__”Lençol as bola” - Brada alguém no interior da casa. __ Saiam daqui! Não mecham nas minhas cuecas. - E os meninos saem correndo arrastando o amigo desacordado, com algumas gotas de sangue já cobrindo a face por completo.
Naquela casa morava um rapaz muito misterioso e conhecido de poucos no bairro, sua lista de amigos era bem reduzida e as pessoas com quem se relacionava eram poucas. De fato ele não era afeito a relações sociais, sendo poucas vezes visto pelos vizinhos e, quando visto, sempre de noite ou madrugada. Esse misterioso sujeito se chamava Neto, ou Netinho como sua mãe costumava chamá-lo quando gritava da rua para ele sair um pouco de dentro de casa, mas nunca obedecia sua mãe, pois gostava muito de ficar no seu quarto.
Neto tinha outra grande característica(peço escusa pela redundância): Ele media 2 metros e 25 centímetros. Dessa forma, fácil é se presumir que isso incomodava o rapaz, que preferia ficar no seu quarto do que ter uma vida mais social, todavia não era esse o único problema de Neto, ele há alguns meses estava num processo crescente de introspecção, se comunicando cada vez menos com as pessoas, sendo que há algumas semanas não falava com ninguém mais, nem com sua mãe. Neto só pensava numa coisa e seu desejo era só um: Neto queria saber como é “namorar”.
Jair, o eletricista, era amigo e vizinho de Neto, foi chamado pelo mesmo para dar uma olhada no chuveiro que não está funcionando. Jair entra na casa e Neto o leva até o banheiro para resolver o problema. O eletricista tira seus sapatos, pois dizia não gostar de trabalhar calçado, e entra no box, o qual estava bem molhado, e começa a mexer e desmontar o chuveiro. __ Tche, Neto, tu desligou a luz? - Perguntou o eletricista sem parar de fazer sua verificação no aparelho. __ Não lembro, Jair, “acho que talvez”. - Respondeu o menino Neto, recostado na parede com as mãos na cabeça, tocando no teto ao mesmo tempo.
__Então me conta, Neto, tu que praticamente só fala comigo, o que tu tens que não fala mais com ninguém, o que se passa na tua cabeça?
__Olha, aconteceu o seguinte, eu vejo muita novela, vejo programas na televisão que aprecem moças com pouca roupa e danças ousadas, e de um tempo para cá eu tenho pensando em coisas que jamais havia pensado, principalmente quando me acordo, pois meu “pipi” fica diferente e eu penso em várias coisas. Acho que estou na idade de namorar.
Jair ao ouvir isso se vira lentamente para Neto como se nada mais importasse na sua vida, nem o fato de estar trabalhando num chuveiro sem desligar a corrente elétrica. Ele dá um passo para fora do box e com a voz mansa pergunta para o rapaz: __ Vem cá, me diz uma coisa, quando anos tu tem? __ 25, porquê? __ Bem, tu não é mais adolescente, então cabe dizer que teu problema é bem fácil de resolver. Teu problema é mulher.
__Mulher? Como resolvo isso? - Perguntou euforicamente, Neto.
__Vamos dar um jeito nisso, tenho alguns contatos. Nada que uma voltinha de carro na noite não resolva. Mas sobre essa história de “pipi”, você já está bem grande para falar “pipi”, aliás dado a tua altura, acho que vamos ter certa facilidade se colocarmos esse seu “argumento” na negociação com alguma “mãe” quando sairmos pela noite. - Neto esboça um sorriso discreto e envergonhado e olha discretamente para baixo, onde está o tal “pipi”, porém Jair corta o momento de Neto: __E você também já está bem grande para receber visitas vestindo só uma camiseta! Coloque as calças que daqui a pouco volto para buscar você, é hoje que tu vai usar essa tromba que tu chama de “pipi”... Ora, onde já se viu... “pipi”, um mulato calçado, oras... - Saiu Jair gritando e rapidamente rua a fora, sem arrumar o chuveiro, porém com boas intenções de ajudar seu amigo Neto.
Era 23 horas daquele sábado quando na frente da casa um carro vermelho buzina 2 vezes e Neto sai correndo e entra no mesmo. No veículo, além de Jair, estava Raimundo, parente de Jair e dono de um bar, homem da noite que certamente conduziria Neto até seu objetivo.
__Vamos lá então, temos uma amiga minha que tem outra amiga. Ela me disse que essa menina se separou a pouco tempo e está querendo dar novos ares à sua vida, é ai que tu vai entrar Neto, entrar literalmente. - Explica Raimundo enquanto conduz o carro em alta velocidade, sem se importar com lombadas e buracos.
Chegando na frente dessa casa, os rapazes esperam dentro do carro as meninas, mas só se via uma luz na janela, de resto não se via nada, a iluminação não existia naquela rua. Dentro do carro pairava expectativa por parte de Neto, que não se contia de euforia pelo momento que iria viver, o qual seria inesquecível.
Passado alguns minutos, a porta se abre lentamente e uma senhora fica olhando da porta, todos dentro do carro fazem silêncio enquanto por trás da senhora a amiga de Raimundo pega uma bolsa e vai correndo até o carro, em direção da janela do motorista, e pergunta para os rapazes: __ Vamos então? Temos que sair rápido senão minha mãe pode ver e não me deixar sair.
Jair, no banco do carona, pergunta para a menina: __Mas tua mãe não tá ali na porta te vendo? - E Neto pergunta em seguida: __ Mas cadê tua amiga? - E a moça responde para todos: __ A minha mãe está no quarto dormindo, esta aqui é minha amiga.
Ao ouvir a resposta dada, todos se olham e ficam em silencio, quase que fúnebre, pois, por mais que fosse um encontro às escuras, ninguém esperava que a amiga fosse uma senhora da faixa dos 40, mas como Raimundo disse: “É o que temos para hoje”. Dessa maneira entraram as duas no carro e partiram para o destino que Raimundo planejou naquela noite.
Aquele carro vermelho por quase uma hora rodou pelas ruas da cidade até que parou na frente da casa de Raimundo, ali se executaria o plano. Os 5 descem do carro, todos estavam alcoolizados já, porém as moças estavam mais, principalmente a senhora dos 40, que caminhava a passos trocados, “no miudinho e no cruzado”, como diria o sambista.
Ao entrar na casa, outra cerveja é aberta, deveria ser a décima, mas os números não importavam pois a noite estava agradável e o clima animado, até mesmo a madura mulher que a pouco havia se separado, nem parecia que esteve casada por 20 anos, divertia-se com os outros e estava preparada para uma noite imprevisível. E de fato ela foi.
Raimundo chamou a atenção de todos, como se fosse dar as cartas do jogo. Ele disse que ia no quarto conversar com sua amiga, a jovem, e que os outros conversassem com a outra amiga, a madura, mas que especialmente Neto fizesse companhia. E então seguiram no bate-papo descontraido, Jair, Neto e a mulher, enquanto Raimundo estava no quarto com a jovem.
Passado poucos minutos alguém bate na janela da cozinha, Jair vai ver quem é e abre a porta, pois se tratava se um outro amigo, Laurinho.
Laurinho era vizinho de Raimundo e notou o movimento estranho na madrugada e foi conferir o que era, mas por conhecer os hábitos do amigo, levou consigo cerveja.
Então ficaram os 4 conversando e bebendo, até que a experiente mulher, visivelmente embriagada, pergunta se tem um quarto para ela se deitar um pouco, pois queria relaxar. Jair rapidamente empurra Neto para cima dela e manda ele levar ela até o quarto. Ele conduz os dois até a porta do quarto e os coloca na cama, saindo rapidamente do quarto, fechando a porta para garantir. Parecia que o plano estava para se concretizar.
Neto se senta na cama enquanto a mulher se atira na cama, tira seus sapatos e chama o rapaz para conversar. __ Hein, seu grandalhão, quanto tu calça? Neto sem entender direito responde: __ 51, porquê? - A senhora olha o rapaz de cima a baixo com cara de curiosidade e segue a conversa de forma tímida.
Algum tempo após, no lado de fora do quarto, estão Jair e Laurinho bebendo cerveja e conversando:
__Me diz, Jair, esse rapaz não é muito normal né? Um gigante dessa altura com essa velha há meia hora no quarto e parece que só conversam, se fosse comigo seria diferente, eu estaria dando uma lição nessa vovó! - Falou Laurinho de forma debochada, mas Jair respondeu ironicamente: Lição? Que eu saiba quem nem serve pra aluno, muito menos servirá para professor! - Disse rindo Jair enquanto Laurinho se fez de desentendido, colocando-se na frente da porta.
Laurinho que estava bêbado e sentindo-se ofendido por Jair, bateu na porta e chamou Neto. O menino saiu e ele entrou. Jair, não acreditando no que aconteceu, agarra Neto dos ombros, pois foi o mais alto que seus braços alcançaram, e diz para o rapaz: __Tu é louco?! O que tu tem?! Deixastes o Laurinho ir para cima da tua mulher! Agora já era, o que tu fez meia hora lá dentro? Só conversou? Tu falou “pipi” pra ela? Não acredito! Que vergonha!
Neto timidamente responde: __Eu tava conversando, ela estava fazendo massagem em mim, perguntou se podia tirar a roupa dela para ficar a vontade e pediu para ver o meu “pipi”, pois meu tênis é número 51, mas eu não entendi isso que ela falou, de toda forma eu tava gostando, ela tava fazendo essa tal massagem que é muito boa!
Jair agarra Neto com mais força: __E tu não foi para cima dela?! Mulher dessa idade não tem melindres! Era para ter descoberto como se namora, Neto! Agora Laurinho está lá e fará isso por ti!
Cabisbaixo Neto se senta no chão, ao lado da porta, enquanto se ouvia barulhos de fuzarca na cama.
Neto, inconformado, olha Jair ao longe e o vê sentado triste, tomando a última e mais quente cerveja, como se ali tivesse terminado a noite para ele, ao ver o amigo derrotado. Neto então pensa consigo que não poderia acabar assim a noite e decide, ao menos, falar com a mulher que estava no quarto, mas, como se alguém houvesse escutado o que planejou em pensamento, a porta se abre, mas infelizmente sai do quarto Laurinho, sem camisa, suado, já arrumando as calças para ir embora.
Jair olha Laurinho com desdém e pergunta: __E ai, é fácil tirar do pobre rapaz né? Tu deve tá precisando muito mesmo! - E Laurinho responde: __ É, não sei, tu pode falar mal de mim, mas fraco como esse teu amigo, não conheço ninguém.
Jair olha para Laurinho com cólera, enquanto Neto baixa a cabeça quase chorando, contudo, antes que Laurinho pudesse triunfar naquele recinto, a mulher sai para fora do quarto, bêbada, completamente nua, reluzindo uma tatuagem de flor no busto, e a mesma diz: __ Calma ai! Eu gosto de homem com atitude, e tu é um mentiroso! - Nesse momento todos estão olhando para a mulher despida, inclusive Raimundo que recém havia aberto a porta de seu quarto.
A mulher continua: __Eu gosto de ação, mas tu entrou no quarto comigo e eu não vi teu time entrar em campo, aliás, onde já se viu o “treinador não saber quando o time entra em campo?”
A gargalhada de Raimundo sobrepôs o diálogo da mulher e de Laurinho. E o mesmo responde: Esse exemplo está melhor do que te chamar de “Come-Coxa”. E assim o riso foi geral, menos de Laurinho, que sofria com esse problema de muitas vezes não saber se o seu “time tá dentro do campo”, ficando conhecido por “comer coxas”.
Então a mulher, embora nua em meio a todos, agarra Neto e diz: __Me dá tua mão que agora tu irá virar homem. Me dá essa mão que vou te levar para conhecer o que é bom e tu irá ser homem agora! - Disse a mulher de forma decidida, agarrando com vigor Neto, o qual responde: __Tudo bem, vamos lá, mas isso que tu está apertando não é a minha mão.
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